Por Ricardo Fonseca*
Tim Finchem, o executivo-chefe do PGA Tour, o maior e mais bem pago circuito profissional do mundo, aproveitou a rodada final do Accenture Match Play e sua exposição mundial, para tornar pública a posição de sua entidade contra a mudança de regras limitando as tacadas com putters longos, propostas pela USGA (United States Golf Association) e o R&A (Royal & Ancient), as duas entidades que comandam o golfe mundial. A proposta de mudança, que proíbe as tacadas com os tacos ancorados no corpo, isto é, os cabos dos belly putters encostados na barriga, ou os dos "vassourões" encostados no peito ou queixo, foi anunciada com um período de três meses para discussão mundial, que termina dia 28 de fevereiro, na próxima quinta.
Não foi por acaso que Finchem escolheu o Accenture para falar. Esse é um torneio da Federação Internacional de PGAs, que além do PGA Tour reúne os maiores circuitos profissionais do mundo. Uma entidade que tem a força de quem conseguiu colocar o golfe de volta aos Jogos Olímpicos, que não estará no Rio 2016 por causa dos amadores, e sim dos melhores profissionais do mundo. E a regra que a USGA e o R&A querem mudar entraria em vigor dia 1º de janeiro de 2016, obrigando o golfe a ser jogado com a nova regra em sua primeira Olimpíada em mais de um século.
Jogo lento – Para a USGA e R&A, os putts com os tacos ancorados ao corpo são contra o espírito do jogo, por permitir um terceiro ponto de apoio e por isso devem ser proibidos. Só não explicaram por que decidiram isso agora, quase 40 anos depois que esses tacos passaram a ser utilizados, há pelo menos 20 anos entre os profissionais. Finchem ouviu seus dois principais conselhos, o de jogadores e o de diretores, e a imensa maioria foi contra a mudança.
A jogada de Finchem ao anunciar publicamente e em rede mundial de TV sua posição é uma tentativa de jogar a opinião pública contra a USGA e o R&A, que, sem entrar no mérito da questão da ancoragem ou não, além da penalidade por jogo lento mereceriam outra por terem publicado a proposta de mudança de regra sem ouvir ANTES, o PGA Tour e os demais circuitos profissionais e a indústria do golfe, incluindo os donos de campos de golfe e similares, que vem majoritariamente se colocando contra a mudança a essa altura do campeonato.
Estatísticas – Finchem foi claro em sua posição: "Não existem dados ou estatísticas que comprovem a tese de que usar os tacos ancorados dá uma vantagem competitiva ao golfista", avisa, com base no maior e mais antigo banco de dados estatísticos do golfe mundial sobre putts, desenvolvido pelo PGA Tour. "E como essa tacada é usada há pelo menos 30 ou 40 anos, não há por que proibi-la agora".
Antes de 2011, apenas três jogadores haviam vencido no PGA Tour com putters ancorados. Desde então, jogadores com esses tacos venceram três dos cinco últimos majors e o próprio Matt Kuchar, que jogava enquanto Finchem falava, deu mais um título da série mundial a esse tipo de tacada. Mas de 2011 até agora, já foram mais de 20 títulos do PGA Tour ganhos com putters ancorados, nada a estranhar uma vez que o uso dos putts longos cresceu muito desde que Keegan Bradley venceu o primeiro major com um deles.
Entrevista – O PGA Tour anunciou que Fichem entraria no ar no Golf Channel às 15 horas (no Brasil) para explicar a posição do PGA Tour. Os jornalistas presentes ao Accenture reclamaram da exclusividade e a programação foi mudada, como Finchem primeiro dando uma entrevista coletiva aberta (sem credenciamento especial) e só então indo para a TV, como vimos na transmissão da ESPN.
Na coletiva Finchem explicou que com as posições contrárias do PGA Tour, do PGA of América e das demais entidades de profissionais, que devem enviar suas repostas esta semana, ele espera que a USGA volte atrás. "Não existe nenhum impacto negativo em ancorar o taco, ao contrário", disse Finchem. "Esse tipo de tacada tem permitido que milhares de pessoas que não podem usar o putt da maneira tradicional entrem ou permaneçam no jogo", avisa.
Impacto – Finchem lembrou que o golfe foi seriamente impactado pelas crises econômicas, mas resistiu e se recuperou, apenas de ter perdido quase 2 milhões de jogadores ocasionais nos EUA nos últimos dois anos. "Estamos num bom momento, crescendo, e mudar alguma coisa agora será trabalhar contra o golfe, não a favor", defende.
O dirigente do PGA Tour só se recusou a falar sobre a "bifurcação", que seria o PGA Tour e demais circuitos profissionais seguirem em frente com seu próprio conjunto de regras, se USGA e R&A não voltarem atrás. "Nós ainda não discutimos esse assunto", diz Finchem, mas não é bem verdade. Nas reuniões de diretoria, ficou claro que esse será o caminho a seguir, como revelaram vários jogadores que participaram das discussões.
*Portal Brasileiro do Golfe (golfe.esp.br)