O profesor e psicólogo João Alberto Barreto, psicólogo do Projeto Rio, apresenta artigo sobre a psicologia no golfe. Leia na integra o seu artigo:
Segundo Rotella, o golfe não é um esporte para perfeccionistas, segundo obra publicada em 1997. O que significa esse título? Quer dizer que quando o atleta chega a um alto nível de eficiência técnica nas suas habilidades psicomotoras, a sua atenção deve estar voltada, não mais para a sua parte biomecânica automatizada, mas para a administração das suas atitudes mentais, emocionais e comportamentais. Não precisa mais se preocupar em estar se aperfeiçoando, tecnicamente, porque seu corpo já adquiriu respostas de habilidades técnicas, tão bem estruturadas, que as jogadas se realizam de forma simples e automatizadas, sem que haja qualquer necessidade da intervenção da sua consciência. Isto não significa que o atleta não tenha que ser corrigido por si próprio ou pelo seu treinador, em relação a algum erro técnico ou de avaliação. Mas é importante considerar que, durante um jogo, o atleta não deve e não pode querer estar se corrigindo a todo momento. A correção deve se dar, somente, nos treinamentos. Assim afirma Rotella: na avaliação de um golpe, a convicção é mais importante do que a correção.
Todo aficionado do golfe sabe que esse esporte é um jogo de erros, armadilhas e acidentes de percurso e que, na maioria das vezes, com conseqüências frustrativas, explosões de raiva, depressão, insegurança e a perda total da auto-confiança e etc. Por isso mesmo, torna-se um esporte de alta complexidade mecânico-sócio-psicológico.
O golfe, dentre centenas de esportes, parece ser a atividade agonística que mais, bio-psicológicamente-motor exige dos atletas: um consistente e permanente controle mental, emocional e motor, acentuada pela tolerância às frustrações, grande intensidade de foco de atenção na tarefa e concentração geral, efetivo controle emocional, forte resistência à fadiga afetivo-cognitivo, sólida afirmatividade, para se chegar a um elevado grau de desempenho. Como esporte de alto nível de precisão, mostra ser um fenômeno multifatorial, dependendo basicamente de uma variedade de traços de personalidade. Podemos considerá-lo um sistema esportivo, que impõe ao praticante, mesmo bem preparado, o cometimento aleatório de um grande número de erros inesperados, em função da técnica e das flutuações psicológicas, como também da existência de uma série de armadilhas espalhadas pelo campo, com o fim de dificultar os competidores que, tentam durante todo o jogo escapar-lhes e não conseguindo, muitas vezes, evitá-las. O golfe é um jogo de erros, portanto um jogo para atletas do tipo fairplay, que por possuírem uma estrutura psicológica especial, conseguem aceitar, sem problemas, as frustrações, sair das ciladas dos erros cometidos e levar adiante o seu jogo de adaptação aos reveses experimentados. Aqueles que não possuem esse jogo de cintura, inevitavelmente irão manifestar comportamentos dos mais agressivos, com excessiva irritabilidade, ansiedade e até depressões, entrando no pior dos ardis, como o total descontrole cognitivo-emocional e conseqüentemente tendo na derrota a sua maior punição.
Diante dessa realidade e estando profundamente interessado na área do estudo e da interação entre a personalidade e o golfe, gostaria de levantar algumas questões, como por exemplo, se os tipos de personalidade introvertida, com traços psicológicos mais encontrados nas pesquisas: persistência, auto-controle, forte condicionamento, resistência a fadiga mental, atividade cerebral intensa, alto nível de atenção e concentração, paciência e etc., teriam melhores condições cognitivo-emocionais, em alcançar melhores desempenhos que os extrovertidos, que aparecem com distintos traços psicológicos : baixa persistência, grande impulsividade, perda da atenção e concentração, baixa resistência a fadiga mental, entrada na distração e etc., no enfrentamento dessas frustrações, que ocorrem diante dos erros e envolvimento nas manhas do campo.
Acredito que o meu interesse nesse estudo será de grande valia, também, para os atletas, que com esse conhecimento, poderiam controlar alguns traços psicológicos considerados negativos, tornando-os, no seu enfraquecimento, mais positivos. Percebo o golfe, como uma mínima sociedade com regras, princípios éticos e frustrações agonísticas, como vemos na sociedade de um modo geral, com os indivíduos expostos aos estresses da vida competitiva, na luta pela suas metas e etc. A partir deste ponto de vista, é possível entender que esse esporte se encontra bem dentro do campo da psicologia social, porque se trata do homem e da mulher (golfista) e de suas relações simbióticas com o poluente meio ambiente sócio-competitivo (armadilhas, ventos e outras dezenas de empecilhos). As frustrações esportivas são semelhantes as frustrações sociais, porque o mundo é uma arena de jogos agonísticos em crises e conflitos permanentes entre pessoas. Afirmaria até que o golfe praticado desde a infância, seria um bom treinamento de adaptação social ao estresse competitivo, na estruturação da educação psicológica do jovem e no ajustamento da sua vida sócio-profissional futura.
Não seria demais assinalar, nesse trabalho, a importância dos princípios teóricos de Pavlov e Skinner, grandes mestres da psicologia experimental, que nos brindam no grande entendimento dos comportamentos gerais de nossos atletas, tanto no que se refere à organização automatizada das habilidades psicomotoras como a preparação neurofisiológica e emocional dos atletas de ponta dentre os mais diversos esportes praticados em todas as sociedades contemporâneas. Podemos considerar esses princípios como a base comum da aprendizagem de todo ser humano na formação dos seus comportamentos mais gerais e específicos. Todo ser humano será o que aprendeu a ser na sua educação, ressalvadas a herança genotípica da sua personalidade que o direcionará a certos comportamentos específicos, próprios da sua carga genética.
Abusando um pouco mais da paciência do leitor, gostaria de lembrar os trabalhos científicos nos campos da Psicologia e da Neurociência, referentes a automaticidade de uma resposta de uma habilidade psicomotora, resultando na suspensão ou bloqueio condicionado de qualquer idéia ou pensamento, levando a ocorrência do ASC: estado alternativo de consciência. Esse fenômeno aparece em todas as atividades humanas e especificamente, em esportes considerados de respeitável precisão como o: golfe, tiro ao alvo, arco e flecha etc., provando os estudos empíricos da prática ZEN. Este insinua o VAZIO MENTAL e o EMOCIONAL: MUCHIN, ( mu: vazio; chin: mental e coração emocional – como veículos básicos para se chegar a uma condição de acentuado nível de espiritualização, o que eu chamaria de alto grau de concentração na tarefa), segundo os princípios ideológicos dos mestres budistas. Esse estado nada mais é que um momento de integração automatizada entre o atleta, o taco, a bola e o buraco, considerando o golfe. Essa unidade integrada é o objetivo para a melhor performance ou mesmo à chegada ao IPS – estado ideal de performance.