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O PAPEL DO TREINADOR-LÍDER: VENCER OU VENCER, EIS A QUESTÃO

Podemos considerar os treinadores como verdadeiros líderes esportivos. Exercem um papel de liderança, que segundo Barrow, 1977, se define como “o processo comportamental de influenciar indivíduos e grupos na direção de metas estabelecidas”. E para se chegar a essas metas, o treinador-líder terá que manifestar uma série de comportamentos como: processo de tomada de decisão, técnicas de motivação, dar feed-back, estabelecer relações interpessoais e dirigir atletas com confiança.

Um treinador de golfe, como um líder, está permanentemente tomando decisões em relação aos seus discípulos, tanto em estilo democrático quanto autocrático, uma vez ou outra, instruindo-os sobre as técnicas mais corretas, corrigindo os erros cometidos, intervindo nas avaliações de certos tipos de jogadas, como a batida de swing, a melhor maneira de “patear” ou sair de uma banca ou mesmo de um rough. Sendo um líder sensato, não pode se descuidar na motivação do seu atleta , não só nos treinamentos como nas vitórias, nos acertos de uma jogada, mas também, em momentos de derrota, como na apreciação do julgamento dos seus desempenhos e no encorajamento de atitudes técnicas mais audaciosas. Todo atleta está, sempre, em processo transitório, na direção de seus objetivos técnicos e de desempenho. Está, permanentemente, no rumo e alcance de metas estabelecidas, na superação de seus limites técnicos e consistentemente reforçado pelas atitudes positivas do seu treinador. Um líder esportivo, usualmente, emprega o recurso do feed-back (retroalimentação) nos treinamentos, mostrando ao atleta a execução do seu swing, um slice ou hook, através do registro por vídeo-tape, com o objetivo de fortalecer a visualização do treinando nos movimentos mais perfeitos da sua habilidade técnica. Concluindo após, com uma amostra corporal da habilidade técnica, em termos biomecânicos. O reforçamento dos acertos técnicos, como elogios, encorajamentos, o que em psicologia chamamos de “reforços positivos”, vem fortalecer os níveis de motivação do competidor” em repetir aquele comportamento, sempre da forma mais eficaz e primorosa, como também mantê-lo na direção das metas de alcançar “tacadas” mais corretas, em se tratando do golfe.

Outro aspecto que podemos considerar de muita efetividade no treinador está na sua liderança afetiva ou social, no qual o atleta é visto mais como uma pessoa que um jogador. Entra aí a fortificação dos laços afetivo-emocionais entre si, dando o treinador maior atenção aos problemas do indivíduo na sua vida familiar, social e entre os colegas, nas suas interações com o grupo e fora do mesmo e em outros aspectos, que podem, em dado momento, trazerem dificuldades na sua vida esportiva. A liderança tough-mind (rígida, exigente, dura) dirigida para a tarefa é contrabalanceada com uma relação interpessoal de aproximação mais humana e mais afetiva. Podemos considerar que, um traço de personalidade de auto-confiança do treinador vai influir na segurança e destemor do atleta no que esta realizando tecnicamente, influenciando e aumentando a sua própria consistência nos treinamentos e desempenhos de suas habilidades técnicas.

Os dirigentes e os treinadores-líderes apresentam diferenças nos seus papéis esportivos: um dirigente se preocupa mais com planejamento, organização, orçamento, pessoal e contratações. O treinador-líder, ao contrário, em determinar a direção que o atleta deve seguir, incluindo suas metas e objetivos, como também, fornecendo os recursos e o apoio técnico, para que o trabalho seja realizado com eficácia. No passado, um treinador fazia de tudo: era dirigente, treinador, médico, psicólogo, nutricionista e etc., como assinalo em meu livro “A Psicologia do Esporte para o Atleta de Alto Rendimento”, 2003. Com a evolução da ciência esportiva, esse comportamento generalista passou a ser substituído, progressivamente, por comportamentos de especialização.

As grandes exigências técnicas sobre os atletas e o aparecimento simultâneo de novas tecnologias, provenientes de trabalhos científico-experimentais, se tornaram cada vez mais numerosos e necessários aos desempenhos atléticos.

A necessidade de aperfeiçoamento nos mais diversos campos das ciências das atividades psico-motoras, biológicas, psicológicas e sociológicas foram crescendo de forma vertiginosa, exigindo mais rapidamente a integração das informações científicas pela comissão técnica, voltadas para as conquistas atléticas de substancial envergadura.

Há décadas, as pesquisas sobre liderança, vem sendo feitas. Foram publicados mais de 3.500 estudos para a investigação dos fatores associados com a liderança efetiva, como afirmam Weimberg e Gould, na obra “Fundamentos da Psicologia do Esporte e do Exercício”, 2001.

Muitas teorias foram apresentadas como a abordagem dos traços psicológicos, a abordagem comportamental e por fim a abordagem interacional. A abordagem do traço repousa na idéia que o líder já nasce feito, com os seus traços psicológicos determinados. A abordagem comportamental, baseado nos condicionamentos comportamentais, isto é, na formação de hábitos, defendem o princípio que a liderança é aprendida e certos traços psicológicos podem ser treinados e se tornarem efetivos, como tomadas de decisão de estilos democrático e autocrático, defesa dos direitos e outros: reconheço ser possível e que pode resultar da educação. Mas os pesquisadores, últimamente, chegaram a conclusão que a abordagem interacional, estabelecendo a integração entre as atitudes de liderança e uma situação específica, é que vai determinar o tipo de liderança mais efetiva, numa dada condição específica.

Por exemplo, os estilos de liderança estudadas como a democrática e autocrática, variam nos esportes individuais e coletivos. Nos esportes individuais, como o golfe, o estilo de liderança mais eficaz seria a democrática. Segundo as pesquisas o estilo autocrático seria mais encontrado em equipes ou grupos esportivos. As investigações indicam que quanto maior for um grupo, o estilo de liderança vai se tornando mais autoritário. É instrutivo mencionar que um líder democrático apresenta dois comportamentos em relação ao seu atleta: um, orientado para a tarefa e o outro, orientado para o relacionamento. Esses comportamentos, em algum momento, mesmo nos esportes individuais, podem aparecer mesclados. Os treinadores, nas sua estratégias de treinamento, estão voltados para a superação dos limites atléticos dos seus competidores. Por essa razão, as suas exigências são progressivamente mais altas, e, portanto, podem exibir, ocasionalmente, uma certa autocracia, na tentativa de conseguir alcançar as metas instituídas. Um grande líder esportivo não pode esquecer que seus discípulos não são, simplesmente, um conjunto de ossos, músculos e respiração. São seres emocionais, constituídos de sentimentos e valores e não máquinas automatizadas de produção psicomotora. Os limites humanos podem ser superados de uma forma progressiva. E, esse caminho se dá através do trabalho físico-técnico, em fases específicas de período de tempo, conhecido como periodização do treinamento desportivo: macrociclo, mesociclo e microciclo. E a preparação psicológica a acompanha, dando sustentação a essa grande caminhada para o desempenho efetivo, desenvolvendo no atleta, uma forte resistência emocional, para suportar os grandes estresses de treinamento, fase “microciclo”, no cumprimento das estratégias fixadas pelo seu líder-treinador.

Enfatizando o processo de abordagem interacional, Martens, 1987, citado por Weimberg e Gould, 2001, considera um líder numa interação de quatro componentes básicos de liderança efetiva: qualidades ou traços psicológicos acentuados, estilos de liderança, fatores circunstanciais e qualidades dos atletas.

Segundo Bill Parcells na obra “Find a Way to Win”, 1995, o autor assinala que os traços mais comuns que líderes de sucesso mais exibem são a integridade, flexibilidade, lealdade, confiança, responsabilidade, franqueza, preparação, desenvoltura, autodisciplina e paciência. Podemos acrescentar mais alguns outros como a inteligência, otimismo, motivação intrínsica e empatia, confirmados pela maioria de outros pesquisadores. Estilos de liderança assinalados acima, como treinador de estilo democrático centrado no atleta cooperativo e orientado ao relacionamento e o treinador de estilo autocrático orientado para a vitória, fortemente estruturado e orientado à tarefa, são atitudes freqüentes, agregados ou não, encontrados nos grandes treinadores. No caso dos esportes individuais, como dito acima, o treinador está mais orientado para o diálogo, podendo em certos momentos exercer comportamentos mais duros do tipo “tough-mind”, com o seu atleta do sexo masculino. Em se tratando da atleta do sexo feminino, o líder tem que ser mais “doce”, isto é, mais “tender-mind”, mas sem esquecer que o uso de atitudes mais firmes, em relação ao cumprimento das metas, orientada à tarefa, podem beneficiar a atleta no seu desempenho esportivo.

Percebemos, portanto, que a atitude democrática dialogada é a mais encontrada nos esportes individuais, como um fator circunstancial. As qualidades psicológicas do atleta são da maior importância para a efetividade do líder. Por exemplo, atletas mais velhos e mais experientes, geralmente, preferem um estilo de treinamento autocrático e atletas do sexo feminino preferem um técnico de feitio mais democrático. Mas, de uma forma geral, os dois modos variam na interação com os atletas, não olvidando, que os treinadores-líderes, cada vez mais, intimam que seus atletas estejam permanentemente em processo de “auto-superação” dos seus limites competitivos: “Vencer ou Vencer, Eis a Questão”.

Prof. João Alberto Barreto